Sob críticas dos atuais lojistas, a Infraero mudou a estratégia de exploração comercial dos principais aeroportos do país, com novos contratos de aluguel que chegam a aumentar em até oito vezes os preços anteriores. À medida que expiram, 5.244 espaços comerciais estão sendo relicitados pela estatal, com base em novas regras. Nos próximos seis meses, haverá cerca de 400 licitações.
A possibilidade de renovação automática dos contratos foi abolida. O McDonald's passou a pagar, por exemplo, R$ 654 mil por mês para manter sua lanchonete no aeroporto de Guarulhos. Quando foi relicitado, o espaço onde está a rede americana tinha um preço mínimo de R$ 120 mil por mês de aluguel. "O aumento médio tem sido de 200% nos novos contratos", diz o diretor comercial da Infraero, Geraldo Neves.
A previsão é elevar o faturamento com áreas comerciais de R$ 947 milhões no ano passado para R$ 1,16 bilhão em 2011.
Diante da explosão do número de passageiros na aviação civil, o comércio tem cedido áreas para outras atividades, como novos acessos a salas de embarque e balcões de controle imigratório. Até mesmo por causa disso, tornou-se um espaço cada vez mais nobre nos aeroportos, o que precisa refletir-se no preço dos aluguéis, argumenta Neves.Com os novos investimentos na expansão dos terminais de passageiros, as áreas comerciais voltarão a crescer. No aeroporto de Manaus, uma das 12 cidades que vão sediar jogos da Copa do Mundo, a Infraero homologou no fim de setembro o resultado da licitação para as obras de ampliação do terminal em mais de 50 mil metros quadrados. E uma série de medidas para esse novo cenário será posta em prática.
O conceito de Aeroshopping, pelo qual o varejo nos terminais é organizado com uma identidade visual própria e um portfólio de lojas diferenciado, será estendido dos atuais 17 para 30 aeroportos.
Hoje a rede abrange os aeroportos de Guarulhos (São Paulo), Viracopos (Campinas), Brasília, Palmas, Porto Alegre, Belém, Londrina, Joinville, Uberlândia, Navegantes, Porto Velho, Salvador, Manaus, Campina Grande, Maceió, Recife e Petrolina.
Também será feita uma reorganização do mix de lojas, privilegiando serviços como lanchonetes, farmácias, caixas eletrônicos e bancas de revistas. "Vamos fazer essa reestruturação, até março de 2012, em todos os aeroportos da Copa", afirma Neves.
Para ele, será uma oportunidade para dar mais espaço a comidas típicas e ao artesanato local. "O primeiro aeroporto com a reavaliação será o de Salvador."
No planejamento para a Copa, a Infraero já tem sido procurada por grandes multinacionais interessadas em expor suas marcas durante o evento esportivo. Uma das primeiras a tomar essa iniciativa foi a Coca-Cola, que quer alugar espaços para publicidade nos aeroportos das principais cidades-sede.
A Infraero estuda a possibilidade de colocar quiosques para essas marcas, com contratos de 30 a 60 dias. "Queremos levantar quanto a África do Sul cobrou nesses casos", diz Neves, ainda sem uma ideia precisa de preço.
Outro ponto tido como prioritário pela Infraero é a implantação de hotéis nas áreas de exploração dos aeroportos.
Os primeiros hotéis, em Brasília e no Galeão (RJ), já foram licitados. Na capital federal, o hotel terá oito andares e investimento de R$ 45 milhões, com 25 anos de contrato de concessão. Confins (Belo Horizonte), Foz do Iguaçu e Florianópolis também terão licitações.
Com todas essas mudanças, um fenômeno tido como "inevitável" pela Infraero é a cobrança de preços mais altos de produtos e serviços nos aeroportos. Esses preços já causaram uma reclamação da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em reunião com técnicos do setor. Lembrando a chegada das classes C e D aos aeroportos, ela cobrou iniciativas para dar opções aos passageiros menos endinheirados.
Uma ação que já estava em andamento era a concorrência pública para a colocação de 143 pontos automáticos de venda - conhecidos como "vending machines" no jargão do varejo - de refrigerante, café e guloseimas em 15 terminais. Se não houver mais recursos administrativos contra a licitação da Infraero, que foi feita em setembro, as máquinas estarão funcionando entre dezembro e janeiro. Os concessionários terão a obrigação de manter o mesmo patamar de preços praticado em pontos de venda fora dos aeroportos.
No fim de setembro, a Infraero publicou um ato administrativo incluindo, entre as "obrigações do concessionário", a previsão contratual de que ele deve "oferecer produtos atrativos de qualidade com a cobrança de preços compatíveis com aqueles praticados no mercado local". Mas não há, no ato, penalidades previstas em caso de descumprimento. Para o diretor, em todo o mundo, os produtos são mais caros nos aeroportos. Por isso, ele acredita que é uma questão de mercado, em última instância. "Se começarem a cobrar R$ 30 por um sanduíche, eles podem, mas nenhum passageiro vai comprar."
Noticia:Valor Econômico
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